quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Escravos da vida

Certo dia, andando pela estrada que beirava a fazenda em que vivi tantos anos de minha vida, no interior, encontro uma senhora que me aborda e com a voz roca e cansada me chama atenção:
- o minha filha, porque não sai desse lugar? Não voa para longe daqui? Tão jovem, voce pode se livrar dessas algemas.

- Algemas, senhora? Porque diz assim desse lugar em que vivi tantos anos? Não gosta daqui?  Não tenho vontade de sair, sou apaixonada por tudo desse lugarzinho simples e distante. Desde o raiar do sol, ate o menor e mais escondido cantinho de minha fazenda. - respondi meio abismada

- Ah, minha querida, quantos anos vivi nesse lugar... plantei, colhi, cuidei com todo amor da minha terra, plantava o que precisava pra viver, tinha uma vida simples, dificil, mas nunca quis deixar esse lugar pelo amor que sinto a ela, por isso, hesitei em fazer tudo que podia para ficar assim, como voce... -respondeu a senhora

- como eu?

- Sim, presa a este lugar. Eu nunca deixei de me apaixonar pelo silêncio que não existe em outro lugar, pela melodia do cantar dos pássaros, pelo som da brisa batendo nas arvores, a tranquilidade e a vida simples que tenho aqui... mas por causa desta, deixei de lado tudo que sonhava, e hoje, tão velha e cansada, não posso mais fazer nada do que queria. Estou presa aqui, algemada, como uma escrava desse lugar.

- Mas senhora, porque me dissestes isso se não me conhece? E porque tanta preocupação se não tens nem uma afinidade comigo?

- Porque ao te ver andando pela estrada, tão sonhadora, e com esse olhar satisfeito e apaixonado com essa terra, vi minha vida passar diante de meus olhos, logo, não pude deixar de te chamar e te alertar, tentando impedir que cometa os mesmos erros que eu.  Você nunca sabe o que o prende, até descobrir a força que tem.
O que quero te dizer minha jovem, -completou a velha senhora -  é que não precisa deixar de amar, ou abandonar esse lugar, mas nunca deve deixar de realizar um sonho ou um desejo por ele. Pois quando for velha como eu, ainda amarás esta terra como ama hoje, mas não se arrependerá de ter vivido o que não poderás viver mais tarde. Não se prenda tanto como eu me prendi.

Após ouvir o que a senhora me dizia, consegui entender o que me alertava.
Um sorriso me apareceu no rosto e me despedi dando-lhe um grande abraço seguido de um sussurrando "obrigado".
A velhinha satisfeita e crente que conseguira alcançar seu objetivo, seguiu seu rumo na estrada e sumiu.
E eu, continuei então o caminho a qual seguia.
Quanto a tão sonhadora senhora, nunca mais a vi.. Mas uma coisa eu sei... jamais esquecerei o que ela me disse aquele dia.

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